terça-feira, 16 de agosto de 2016

BEDA # 16 [Resenha] Um útero é do tamanho de um punho

  • Título: Um útero é do tamanho de um punho
  • Autora: Angélica Freitas
  • Editora: Cosac Naify
  • Número de páginas: 93

A poesia brasileira, apesar da resistência do público com os autores iniciantes, tem ganhado cada vez mais destaque no país e internacionalmente. Um belo exemplo disso é a poeta gaúcha Angélica Freitas (1973), que escreveu além de ´Um útero é do tamanho de um punho (2013), a antologia Rilke Shake (2007). Seu segundo livro recebeu várias críticas positivas e foi finalista no prêmio Portugal Telecom.
Em 'Um útero é do tamanho de um punho' podemos ver o resultado das reflexões realizadas pela autora quando começou a problematizar as questões relacionadas ao sexismo. Angélica Freitas, segundo contou a Revista Trip, decidiu falar sobre o feminino ao conviver com feministas ativistas na Argentina, fato que se comprova no no poema I do capítulo Argentina, em que diz: 

"e alguém pode dizer que voltei
feminista da argentina
ou será que tive muito tempo pra pensar 
nessas coisas que ninguém quer pensar
que é melhor que não se pense em nada
e que os churrascos sejam machos
como as saladas são fêmeas

a verdade é que não  voltei da argentina"

As poesias retratam com bastante leveza e humor variados assuntos próprios da mulher, mas que muitas vezes ainda representam um tabu, como sexo, masturbação e aborto. Além disso, são problematizados os esteriótipos de gênero e a imposição social sobre o comportamento feminino. No primeiro texto do livro já fica evidente o caráter contestador da obra:  "poque uma mulher boa / é uma mulher limpa / (...) / porque uma mulher braba / não é uma mulher boa / (...) / há milhões, milhões de anos / pôs-se sobre duas patas / não ladra mais, é mansa / é mansa e boa e limpa".

Um fator bastante interessante no livro são as divisões dos capítulos, como em "3 poemas com o auxílio do google", em que a autora fez uma levantamento das principais buscas no site de pesquisas relacionadas às mulheres. Já  "O livro rosa dos coração dos trouxas" tem como tema principal os relacionamentos e é dele que tiro um trecho,  em que há uma intertextualidade com "Orgulho e Preconceito": 
"eu quando corto relações
corto relações
{não tem essa de
briga de torcida
todos os 
sábados.
é a extinção do estádio.
(...)
o corte é definitivo,
a dor retorna em forma
de milão madri
ou liverpool
quando convocada.
(...)
how elizabeth
bennet of you.
(...)"