"Vou contar as maravilhas
que existem nele [Vêneto]. Espero que, quando terminar, você também queira ter
vivido aqui, pelo menos por um tempo"
Título Original: Italian Neighbours
Título no Brasil: Meus Vizinhos Italianos
Autor: Tim Parks
Editora: Publifolha
Tradução: Carlos Mendes Rosa
Páginas: 319
Autor: Tim Parks
Editora: Publifolha
Tradução: Carlos Mendes Rosa
Páginas: 319
SINOPSE: 'Meus vizinhos italianos' é um livro ao mesmo tempo sério e cômico, uma crônica escrita pelo inglês Tim Parks sobre sua vida na aldeia de Montecchio, no norte da Itália, país em que mora desde 1981. Com estilo elegante e cheio de ironia, Parks transmite tudo aquilo que um inglês típico estranharia num país tão diferente do seu. O livro mostra personagens reais da vida diária - os vizinhos, o quitandeiro, o padre, a herborista, o herói de guerra, os adolescentes -, com suas predileções e manias quase caricatas; as crendices; as leis locais; as preferências políticas; a predileção pelo vinho engarrafado em casa; a burocracia dos serviços públicos; as relações cotidianas, desde o ódio e a inveja até a profunda admiração e a amizade.
Tim Parks
descreve um cenário ruim logo no inicio do Livro. Sua descrição é tão detalhada
que posso jurar ter estado no mesmo lugar que ele e na mesma época. E não é uma
descrição otimista, nem exagerada. É real. Um lugar com problemas, como
qualquer outro no mundo: ambientais, urbanos, climáticos. Uma descrição precisa
porém não exaustiva, e com um toque irônico: "Esse sempre foi um dos
prazeres do auge do verão aqui. Você se sente desconfortavelmente pegajoso o
dia inteiro. Pode tomar dois banhos, [...] pode chupar cubos de gelo, colocar
as pernas num balde de água gelada etc. etc. - e nada disso adianta. O calor parece
vir de dentro de você. Conforto é coisa impensável. Naturalmente, você se
irrita."
Sua
narrativa é envolvente. Com pitadas de humor, descreve também a sociedade que
encontra - que é na verdade o foco do Livro - e como ele se sentiu ao ser
recepcionado ao chegar. Mais uma vez sem exageros, aponta pessoas normais, com
defeitos reais; fofoqueiros que não sabem disfarçar sua curiosidade é a marca
de sua nova vizinhança.
A
diferenciação linguística também é um problema abordado com humor
característico. Nos dois primeiros capítulos eu já sabia que esse humor me
seguiria no decorrer da leitura. Dicas como tipo de locais que devem ser
frequentados e que devem ser evitados, o que comer, horários a seguir, rituais
a aprender, permeiam o livro a partir do terceiro capítulo. Não pense com isso
que o livro se tornou um "guia para estrangeiros na Itália". Parks
entra no cerne da questão: a sociedade italiana. Uma análise em primeira pessoa
do cotidiano italiano, onde o narrador se confunde com o personagem, e um e
outro são o mesmo, uma espécie de auto biografia com foco invertido. Não sei se
consegui explicar, mas é divertido.
A vizinha,
o ex-padre, a barista, suas histórias, seus vícios, sua rotina. Um quadro
bucólico e caótico que Parks pinta e ao mesmo tempo faz questão de descrever
acrescentando seus próprios sentimentos.
Estou real
e positivamente surpreendida com a narrativa de Sparks. Sua capacidade de
narrar um fato fastidioso e cotidiano e deixa-lo interessante e dinâmico é sem
precedentes. "De punhos cruzados perigosamente, um rapaz de 14 anos numa
motoneta força uma garota de bicicleta a subir na rampa de um dique, dando um
jeito de acelerar e buzinar ao mesmo tempo. De certa forma, por trás disso
tudo, a serenidade da aldeia persiste, dormente, latente; ela sempre existe,
mas existe para ser constantemente violentada pelo indomável princípio
dionisíaco sobre rodas."
Por fim,
recomendo essa leitura. Foi minha estreia com Parks, estreia com crônicas, e
adorei. Uma biografia completamente diferente daquelas formais que lemos por
aí, com uma linguagem leve e bem humorada, sai do lugar comum com indescritível
maestria. Para fãs de crônicas, recomendo. Para fãs de biografias, recomendo. E
para todo apreciador de uma boa literatura estrangeira, recomendo também!