quarta-feira, 25 de novembro de 2015

“Oh, admirável mundo novo, que encerra criaturas tais.” - Especial Distopia

por Aline Tavares


Título no Brasil: Admirável Mundo Novo
Título Original: Brave New Word
Autora: Aldous Huxley
Tradução: Lino Vallandro e Vidal Serrano
Editora: Biblioteca Azul
Páginas: 312

Sinopse: Uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos, na qual a mera menção das antiquadas palavras “pai” e “mãe” produzem repugnância. Um mundo de pessoas programadas em laboratório, e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Um mundo no qual a literatura, a música e o cinema só têm a função de solidificar o espírito de conformismo. Um universo que louva o avanço da técnica, a linha de montagem, a produção em série, a uniformidade, e que idolatra Henry Ford.

Essa é a visão desenvolvida no clarividente romance distópico de Aldous Huxley, que ao lado de 1984, de George Orwell, constituem os exemplos mais marcantes, na esfera literária, da tematização de estados autoritários. Se o livro de Orwell criticava acidamente os governos totalitários de esquerda e de direita, o terror do stalinismo e a barbárie do nazifascismo, em Huxley o objeto é a sociedade capitalista, industrial e tecnológica, em que a racionalidade se tornou a nova religião, em que a ciência é o novo ídolo, um mundo no qual a experiência do sujeito não parece mais fazer nenhum sentido, e no qual a obra de Shakespeare adquire tons revolucionários.

Entretanto, o moderno clássico de Huxley não é um mero exercício de futurismo ou de ficção científica. Trata-se, o que é mais grave, de um olhar agudo acerca das potencialidades autoritárias do próprio mundo em que vivemos.

A história de Admirável Mundo Novo foi desenvolvida em um futuro onde os seres humanos são pré-condicionados biologicamente e condicionados psicologicamente em uma sociedade dividida em castas, temos Bernard Marx, um psicológo Alfa-Mais, que por se sentir desajustado, passa a questionar a sociedade em que vive, e em uma viagem a um dos redutos “selvagens” que ainda existem conhece John, e o leva para a civilização. Porém John é incompreendido em ambos os ambientes, principalmente por ter pais, em um ambiente em que as crianças nascem em incubadoras.  Dessa maneira, a obra mostra um contraponto entre as sociedades tidas como primitivas e modernas, nos levando a reflexão do conceito de civilização.

No livro, a sociedade civilizada é aquela em que o ser humano é visto como uma máquina, orientado especificamente para o trabalho e para a produção. Nesse contexto, qualquer coisa que prejudique a produtividade, como a família e emoções como o amor foram abolidas. Todos pertencem a todos. Além disso, o hedonismo e um objetivo, obtido seja por meio do sexo ou de drogas como o alucinógeno SOMA.

Em um ambiente onde as pessoas não são condicionadas a questionar, as atitudes de Bernard e John são vistas como subversivas, principalmente as de John, uma vez que o rapaz é sensível, expressa seus sentimentos e conhece a obra de William Shakespeare, e se espanta com aquela sociedade estruturada racionalmente, tanto que o título do livro foi retirado da peça A Tempestade, a última escrita pelo Bardo, e que expressa esse estranhamento.

Aldous Huxley escreveu Admirável Mundo Novo em 1932 e hoje, 80 anos depois, é impressionante a capacidade profética da obra, uma vez que muitas das situações expostas no livro já são observadas na sociedade atual. Uma leitura obrigatória, que nos leva a reflexão sobre o papel da ciência, o avanço do capitalismo e a importância da reflexão crítica, das emoções e da literatura como instrumentos de transformação da sociedade.