Aposto uma moeda que você já torceu o nariz em alguma aula de literatura quando ouviu falar de Eça de Queiroz. Pelo menos na minha turma de ensino médio, o comentário geral era “por que eu leria um livro de um velho português que viveu há mais de 100 anos?”. Mas não, não vai embora. Prometo que não estou aqui pra te dar mais uma aula sobre Naturalismo.
O livro
da vez é O Crime do Padre Amaro. Lançada em 1875, a obra fez o
maior estardalhaço e até hoje continua gerando polêmicas. Aliás,
o objetivo de Eça era exatamente esse. O livro conta a história do
romance entre Amaro, um padre sem vocação que desde jovem luta
contra seus desejos sexuais, e Amélia, filha da senhora que hospeda
o sacerdote.
Durante
toda a narrativa, o autor põe o dedo nas feridas do Clero português.
Além da crítica explícita ao celibato, ele também aponta a
corrupção dos padres e a sua predileção pela elite. Sem contar no
quão descaradamente critica e ridiculariza as “carolas”, forma
como ele chama as fiéis católicas. Não é surpresa pra ninguém
que Eça sofreu muitas perseguições por parte da Igreja Católica.
Mas vamos à história!
Após a
morte do pároco de Leiria, uma província onde ficava a sede do
bispado, Amaro assume a paróquia por influência de um político.
Lá, ele passa a morar na casa da sra Joaneira, mãe de Amélia. A
atração que ele sentiu pela jovem foi instantânea e depois de
lutar contra suas vontades e se decepcionar com um líder que ele
tomava como exemplo, o padre resolve largar seus escrúpulos e
satisfazer seus desejos.
Amélia termina o noivado influenciada por Amaro e passa a ter encontros escondidos com ele.
Até que ela engravida. Neste momento, o foco deixa de ser o amor
proibido, que na verdade não passava de uma simples atração, e se
volta para como irão esconder a gestação. O autor não cansa de
apontar toda a falta de escrúpulos daqueles que se diziam defensores
da moral e dos bons costumes.
Cena do filme O Crime do Padre Amaro (El Crimen del Padre Amaro), 2002 |
A partir
daí, o livro se desenrola de forma cada vez mais trágica narrando o
sofrimento de Amélia. Pra quem acha que por ser antigo a leitura se
torna difícil, garanto que não é. Mesmo sendo em português
lusitano dá pra entender fácil. Super recomendo, não porque “ah,
todos devem ler clássicos bla bla bla”, mas porque é um livro
realmente muito interessante. [Só queria ser um mosquito pra ver como
o pessoal da época reagiu lendo isso! rsrs]
PS: Prof Patrícia, se você está lendo isso, obrigada pelas melhores aulas de literatura do mundo! Você é fera, saudades!