`A hora da estrela’, de Clarice Lispector, foi publicada em 1977 pela editora Rocco, e é considerado o romance mais famoso da escritora brasileira. Em 1985, o livro foi adaptado para o cinema pela diretora Suzana Amaral, e é uma boa pedida pra quem curte cinema nacional (tem Fernanda Montenegro no elenco!).
Lispector é, sem dúvida, uma das escritoras mais citadas nas redes sociais (muitas vezes até erroneamente), mas quantos de nós já paramos para ler seus romances e contos? Acredito que a maioria só conheça alguns excertos descontextualizados e perdem a chance de ter acesso a uma literatura excelente.
Confesso que, apesar da admiração que tenho pela forma de escrever de Lispector, suas obras acabam comigo, uma vez que atingem os sentimentos mais profundos e contraditórios existentes. Em ‘A hora da estrela’ não podia ser diferente, nos deparamos com a personagem Macabéa, imigrante nordestina que sobrevive no Rio de Janeiro, e sua tediosa rotina. Por meio dos relatos do narrador fictício, podemos ter uma ideia do quão invisível e sozinha a personagem é, e, consequentemente, enxergamos também nossa fragilidade no mundo.
Se você está esperando uma história fantástica, recheada de tramas e reviravoltas, sugiro que feche o livro. Aquilo que o narrador nos apresenta é um (triste) fragmento da vida como ela é. Nas palavras da autora, "a estória de uma moça, tão pobre que só comia cachorro quente. Mas a estória não é isso, é sobre uma inocência pisada, de uma miséria anônima." Minha sugestão, portanto, é a de que você se permita ser conduzido pela linguagem perfeitamente estruturada e que deixe as lágrimas caírem livremente.
Um dos recursos literários utilizados na obra que deve ser observado é a metalinguagem (quando um autor escreve sobre o processo da escrita). O narrador, durante todo o livro, explica os motivos que o levaram a falar sobre Macabéa e discorre sobre o texto, como acontece em “É. Parece que estou mudando meu modo de escrever. Mas acontece que só escrevo o que quero, não sou um profissional - e preciso falar dessa nordestina senão sufoco. Ela me acusa e o meio de me defender é escrever sobre ela”.
Rodrigo S. M., o narrador, nos poupa de definir a obra (ainda bem!), pois ele mesmo o faz em “Juro que este livro é feito sem palavras. É uma fotografia muda. Este livro é um silêncio. Este livro é uma pergunta.”. Por esta razão, mesmo que pareça faltar um ápice (a hora da estrela?), leia e se junte ao coro dos que não têm resposta, mas que não se cansam de perguntar.
Título: A Hora da Estrela
Autora: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Páginas:88
Autora: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Páginas:88