quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A cor púrpura, Alice Walker - por Raquel Sacramento

        Tomei conhecimento do livro “A cor púrpura”, da escritora estadunidense Alice Walker, ao descobrir que meus alunos do 7º Ano o pegavam na biblioteca pra ler as “partes pornográficas”. Obviamente, fiquei curiosa, iniciei a leitura e agora mal posso conter as lágrimas enquanto escrevo essa resenha, peço licença, portanto, para escrever de maneira pessoal e emocional.
        O livro é em formato epistolar, ou seja, através das cartas da personagem principal, Celie, conhecemos uma história extremamente sofrida e que, infelizmente, podia muito bem ser baseada em fatos. O contexto é a sociedade americana do final do século XX, a qual era baseada na segregação racista. Celie sofre uma série de violências durante sua infância e acaba se casando com um homem que também a subjugava e a traía. Em busca de algum alívio, a personagem recorre às missivas que escreve, mesmo sem saber se seu destinatário a ouvia e seria capaz de responder.
         É de suma importância, para entendermos bem a história, consideramos a interlocução nas cartas, uma vez que é, justamente, a relação entre a remetente e os destinatários que nos mostram os aspectos mais subjetivos da história. Celie escreve, a princípio, apenas pra Deus, contando todas as situações pelas quais passava e rememorando sua própria história. Depois, ela passa a remeter à sua irmã, de quem desconhece o paradeiro, e, por fim, quando parece ter assimilado  “a cor púrpura”, se dirige aos “Querido Deus, Queridas estrela, queridas árvore, querido céu, querida gente. Querido tudo.”
          O texto é carregando de trechos super emocionantes e que nos levam à muitas reflexões existenciais, destaco aqui o momento em que – na minha percepção – o título da obra é explicado: “Você tá dizendo que Deus é vaidoso? Eu perguntei. Não, ela falou. Num é vaidoso, só quer repartir uma coisa boa. Eu acho que Deus deve ficar fora de si se você passa pela cor púrpura num campo qualquer e nem repara.” (Reparem que a linguagem é informal, o que confere ainda mais simplicidade e delicadeza à história narrada.)
       Outro tema que é muito explorado pela autora é a importância da sororidade (amizade entre as mulheres), posto que é no momento em que as personagens femininas se unem que a libertação começa a ocorrer. O interessante é que o empoderamento vem de onde menos se espera, fazendo com que enxerguemos que amor e amizade precisam, necessariamente, estar ao lado da luta contra as opressões.
           Essa leitura foi, para mim, mais uma prova de que sempre se pode aprender com os alunos, mesmo com as “travessuras” que eles aprontam. Aproveitei o “interesse” deles pela obra e selecionei uns excertos para discutir o gênero epistolar e racismo estrutural.

P.s.: Pasmem, mas só depois fui descobrir que este livro incrível foi adaptado para o cinema, em 1985, por Steven Spelbierg e estrelado por Whoopi Goldberg e Oprah Winfrey, sendo indicado a vários prêmios e muito elogiado pela crítica.

Referência:
WALKER, Alice. A cor púrpura. São Paulo: Círculo do Livro, 1982.