Tomei conhecimento do livro “A
cor púrpura”, da escritora estadunidense Alice Walker, ao descobrir que meus
alunos do 7º Ano o pegavam na biblioteca pra ler as “partes pornográficas”.
Obviamente, fiquei curiosa, iniciei a leitura e agora mal posso conter as
lágrimas enquanto escrevo essa resenha, peço licença, portanto, para escrever
de maneira pessoal e emocional.
O
livro é em formato epistolar, ou seja, através das cartas da personagem
principal, Celie, conhecemos uma história extremamente sofrida e que,
infelizmente, podia muito bem ser baseada em fatos. O contexto é a
sociedade americana do final do século XX, a qual era baseada na segregação
racista. Celie sofre uma série de violências durante sua infância e acaba se
casando com um homem que também a subjugava e a traía. Em busca de algum alívio,
a personagem recorre às missivas que escreve, mesmo sem saber se seu
destinatário a ouvia e seria capaz de responder.
É
de suma importância, para entendermos bem a história, consideramos a
interlocução nas cartas, uma vez que é, justamente, a relação entre a remetente
e os destinatários que nos mostram os aspectos mais subjetivos da história.
Celie escreve, a princípio, apenas pra Deus, contando todas as situações pelas
quais passava e rememorando sua própria história. Depois, ela passa a remeter à
sua irmã, de quem desconhece o paradeiro, e, por fim, quando parece ter
assimilado “a cor púrpura”, se dirige aos
“Querido Deus, Queridas estrela, queridas árvore, querido céu, querida gente.
Querido tudo.”
O
texto é carregando de trechos super emocionantes e que nos levam à muitas
reflexões existenciais, destaco aqui o momento em que – na minha percepção – o
título da obra é explicado: “Você tá dizendo que Deus é vaidoso? Eu perguntei.
Não, ela falou. Num é vaidoso, só quer repartir uma coisa boa. Eu acho que Deus
deve ficar fora de si se você passa pela cor púrpura num campo qualquer e nem
repara.” (Reparem que a linguagem é informal, o que confere ainda mais
simplicidade e delicadeza à história narrada.)
Outro
tema que é muito explorado pela autora é a importância da sororidade (amizade
entre as mulheres), posto que é no momento em que as personagens femininas se
unem que a libertação começa a ocorrer. O interessante é que o empoderamento
vem de onde menos se espera, fazendo com que enxerguemos que amor e amizade
precisam, necessariamente, estar ao lado da luta contra as opressões.
Essa
leitura foi, para mim, mais uma prova de que sempre se pode aprender com os
alunos, mesmo com as “travessuras” que eles aprontam. Aproveitei o “interesse”
deles pela obra e selecionei uns excertos para discutir o gênero epistolar e
racismo estrutural.
P.s.: Pasmem,
mas só depois fui descobrir que este livro incrível foi adaptado para o cinema,
em 1985, por Steven Spelbierg e estrelado por Whoopi Goldberg
e Oprah Winfrey,
sendo indicado a vários prêmios e muito elogiado pela crítica.
Referência:
WALKER, Alice.
A cor púrpura. São Paulo: Círculo do Livro, 1982.