sexta-feira, 14 de outubro de 2016

[Coisas pelas quais Jane Austen não passou] Senhora, cartão recusado!



Eis um constrangimento que todas nós já passamos em algum momento. Errar a senha é muito comum, trocar o cartão de débito e crédito e ter uma compra recusada, ou mesmo estourar nosso limite. Não é nenhum crime, eu mesma já passei por isso em várias ocasiões. O bom e velho dinheiro nunca falha nessas horas - a não ser que seja falso - e sempre podemos recorrer a ele em caso de recusa de cartão. Mas será que Jane Austen já passou por isso? Será que num desabafo ela poderia dizer "entendo, querida"? Não, com certeza não!


       Na época de Jane Austen, as compras eram feitas de modo diferente do que temos hoje. O dinheiro em circulação eram moedas, de ouro ou prata, cujos valores eram atribuídos de acordo com o metal e sua pureza e peso. Cada cidade tinha a sua moeda, que era aceita em todos os estabelecimentos daquele condado, mais ou menos como funciona entre países, onde cada um tem sua própria moeda cuja circulação só acontece dentro do mesmo. Sendo assim, Austen, e todas as outras mulheres de sua época, tinham suas carteiras, que nada mais eram do que pequenas bolsinhas onde guardavam suas moedas, cartões de visita, e o que mais quisessem.
       As mulheres eram as grandes responsáveis pelas compras, tanto no que diz respeito à manutenção domiciliar, quanto à roupas e acessórios. Escolher a roupa dos homens da casa era uma parte relativamente fácil. Uma das primeiras lojas no mundo a oferecer roupas prontas foi a nossa super conhecida C&A, que fundou sua primeira loja em 1841. Sendo assim, Jane Austen não comprava roupas prontas. Antes disso as compras eram feitas em lojas têxteis, que vendiam os tecidos, de acordo com o tipo, tamanho, cor e detalhes. A partir de então, os cortes eram levados às costureiras, modistas na época, ou estas eram chamadas em domicílio, tiravam as medidas, mostravam modelos, e eram incumbidas de costurar o vestido. Era um processo demorado, e os pedidos deveriam ser feitos com antecedência, caso o modelo fosse ser usado em ocasiões especiais. Em determinadas épocas do ano, como Natal ou feriados grandes, pedidos feitos "em cima da hora" não ficavam prontos, e isso com certeza dava muita dor de cabeça. E nessas horas, muitas moedas rolavam.

       Quanto a manutenção domiciliar, os utensílios de decoração geralmente eram comprados em grandes cidades, ou por pequenos comerciantes, que traziam dos grandes centros para as cidades pequenas. E as moedas entravam em ação mais uma vez. No entanto, as compras em mercados não eram feitas sempre assim.
       As compras pequenas eram feitas em mercearias. Mas as compras maiores, como grãos ou peças de carne, poderiam ser feitas durante o mês e acumulavam-se numa conta a ser paga mensalmente. O bem conhecido "fiado". Haviam também muitas trocas na época, mercadoria por mercadoria, o que trazia grande economia para pequenas propriedades. E a família Austen vivia nesse ínterim.

       As notas promissórias surgiram em 1694, mas eram usadas apenas pelos ricos que tinham grande quantidade de dinheiro à ponto de "servir" ao rei, em documentos assinados pelo próprio Rei. Isso porque na época o Estado recolheu o ouro disponível no país para financiar a guerra contra a França, e para isso, ressarciu os donos desse ouro com as Notas Promissórias. Em 1797 surgiram as primeiras notas de Libra, todas igualmente assinadas a mão pelo rei. Contudo, por morarem em uma cidade pequena, a família Austen continuou a usar suas boas e velhas moedas para seu livre comércio, ou a conta pendurada na mercearia!

       O Cartão de crédito, no entanto só veio muuuito depois, já no século XX. 
       O Cartão de Crédito, como conhecemos hoje, foi inventado em 1950. Isso devido a um "pequeno engano", onde um grande executivo e seus convidados esqueceram suas carteiras, e para pagar a conta no restaurante, tiveram de assinar um cartão de promessa de pagamento. Esse executivo, Frank MacNamara, teve a brilhante ideia de fazer cartões de compras, em papel, que eram aceitos em alguns restaurantes e hotéis. Surgia então o Diners Club, que passou a ser confeccionado em plástico a partir de 1955.

       Sendo assim, senhoras e senhores, Jane Austen NUNCA teve um cartão recusado na vida! Ela não participou desse mundo tecnológico que é o nosso. E por falar em tecnologia, falemos então do whatsapp da Jane Austen... mas não hoje! Em breve, numa próxima publicação da série Coisas pelas quais Jane Austen não passou!



Beijinhos
Mih *-*