Aí nós caprichamos na produção: aquela blusa maravilhosa, aquele jeans que levanta o bumbum, cabelo sem um frizz sequer, e a make com aquele olhão marcado. Perfeito! E então o boy escolhe um lindo romance, completamente chorável, bem na estréia. Lá se vai meia hora de preparo no rímel em meio às lagrimas. Quem nunca?
Não adianta. Mesmo se não for pelas lágrimas, vai ser o batom que se vai depois da bebida (ou dos beijos?), o delineador naquele dia de calor de 50°C, ou a sombra quando você, acidentalmente, coça o seu olho e esquece que está produzida. Um dos momentos mais comuns na vida de toda mulher, por mais simples que seja a make. Eu por exemplo uso apenas lápis, rímel, blush e batom no dia a dia, e volta e meia estou em apuros.
Mas então, será que Jane Austen já passou por isso? Será que ela sentiu a angústia de perceber as lágrimas chegando e ela estar com aquela maquiagem bafônica? A resposta é única: Não! Vamos falar um pouquinho de maquiagem.
Mulheres são vaidosas desde que temos registro. É natural querermos nos sentir bonitas, e desde a Bíblia temos exemplos de mulheres que queriam se sentir mais belas do que seu natural. Temos registros da Idade Média retratando cosméticos elaborados, com cores diferentes e fórmulas bastante estranhas. Basta colocar o nome Cleópatra no seu buscador do Google que você vai encontrar uma mulher muito bem maquiada, com o rosto claro - nada comum para uma região como o Egito - e olhos bem marcados.
No entanto, a maquiagem foi caindo em desuso, e entre a Idade Média e o final do século XIX deixou de ser utilizada. Somente as prostitutas e as mulheres de classe baixa se atreviam a usar cor em suas faces, enquanto que as de classes altas se orgulhavam de sua palidez, a ponto de usarem giz e clara de ovos para dar uma ajudinha. Foi apenas no início do século XX que a maquiagem começou a se tornar comum. No final de 1800 temos a fotografia sendo cada vez mais usada, e o uso da maquiagem se tornou algo habitual para esta época. Os espelhos se tornaram mais acessíveis e cada vez mais pessoas compravam um para suas casas. Enquanto estes dois pontos eram importantes, a chave para o uso habitual da maquiagem foram os filmes, bem mais tarde. Jane Austen veio bem antes disso tudo!
Mas o título fala do rímel. O rímel surgiu por volta de 1830, criado por Eugène Rimmel. Nossa diva morreu alguns anos antes, e podemos entender que ela não pôde experimentar esse invento [maravilhoso, por sinal!]. O cosmético "em alta" na época era o pó com base de giz, que deixava as mulheres de classes mais altas ainda mais branquinhas, regra áurea da aristocracia. Elizabeth I usava.
Eis aí uma rainha que não poupava para estar bela. A filha bastarda que herdou o trono da Inglaterra queria ser lembrada como algo além de "bastarda", e escolheu para si a característica 'bela' e intocada. Muitos cosméticos foram feitos por farmacêuticos locais, conhecidos como boticários na Inglaterra, e ingredientes comuns incluíam mercúrio, chumbo e ácido nítrico, e há quem diga que sua careca e falta de dentes foi devido ao uso contínuo de tais substâncias - apesar de estudos afirmarem que o real motivo foi a varíola. Devido a isso, os cosméticos começaram a ser vistos como uma ameaça para a saúde na Inglaterra Elizabethana.
Bom, sabemos [ou vamos descobrir agora ;)] que o sr Austen era Pároco, religioso. Não eram uma família rica, e, não sei os outros, mas Jane não era muito dada a vaidades. Não seria de seu feitio ficar horas a frente do espelho se maquiando. Talvez um pouco de pó e algum blush - rouge!, que surgiu no século XVIII por Alexander Bourjois. Ou nem isso. Tapinhas e beliscos nas bochechas funcionavam muito bem a esse propósito, já que era um absurdo uma mulher ficar corada na frente de um homem. Mas Michelle, e se o homem em questão falar algo impróprio ou a elogiar? Ah, querido leitor, falaremos disso em breve, numa próxima publicação da série Coisas pelas quais Jane Austen não passou!
http://historiadaestetica.com.br/blog/page2/2015/09/16/d9376a88-efe8-45db-9992-23738b77131d.aspx http://www.sobrebeleza.com/sobre-maquiagem/historia-da-maquiagem.html