quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O desabrochar de uma mulher

Chimamanda Ngozi Adichie.
Nunca tive muito contato com a literatura africana. O único livro que tinha lido até semana passada que se passava no continente era Planície Proibida, sobre descendentes de colonizadores holandeses durante  a Guerra dos Boeres. Então apareceu Hibisco Roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie.

Conheci a Chimamanda pelo livro "Sejamos Todos Feministas"(Companhia das Letras, 2015) e de alguns discursos seus também sobre feminismo, especialmente o que ela fez em uma formatura na Universidade de Wellesley. No entanto,  confesso que não esperava uma obra tão forte como esse livro.

Hibisco Roxo conta a história de Kambili, uma menina nigeriana de 15 anos extremamente tímida e reprimida. Ela mora com seu irmão mais velho Jaja, que tenta protegê-la sempre, sua mãe Beatrice, a típica esposa submissa que pode ser encontrada em qualquer lugar do mundo, e seu pai, um homem extremamente católico, dono de um jornal de oposição ao governo e de várias fábricas de alimentos. Ou seja, muito rico.
Esse pai, Eugene, é sem dúvida o personagem mais complexo do livro. Completamente cego pelo fanatismo religioso, ao mesmo tempo que é conhecido por gastar boa parte do seu dinheiro com caridade e ajudar sua comunidade, é um carrasco dentro de casa. Espanca sua mulher e filhos com frequência por motivos bestas, como não querer visitar o pároco por estar passando mal, não ser o primeiro da turma ou tomar café da manhã antes de ir à missa. Ele também rejeita seu pai por não ter se convertido ao Catolicismo e seguir sua religião politeísta e foi responsável por pelo menos dois abortos que sua esposa sofreu. 

A realidade desta família começa a mudar quando uma irmã de Eugene aparece. Ifeoma é o completo oposto de Beatrice. Ela é uma professora universitária totalmente independente que cria sozinha seus filhos
e os estimula a serem pessoas críticas e questionadoras. Quando ela convence o irmão a deixar os filhos a passarem uma semana com ela, Kambili e Jaja conhecem um mundo novo, sem a ameaça do inferno (e dos castigos paternos) pairando sobre eles. 

Na casa da tia, sem os luxos e regras com que está acostumada, a menina passa a desabrochar e ver o mundo de forma diferente. Aprende a questionar, a ter vontades próprias, a rir e sorrir,  se apaixona pela primeira vez e descobre que ao contrário do que seu pai diz, nem tudo é pecado. Tudo isso acontece gradualmente com ajuda de sua tia, seus primos e especialmente do padre Amadi.

A relação dela com o padre é doce e pura, e a paixão platônica que a garota desenvolve é benéfica a ela (ao contrário do que se pode imaginar quando o assunto é ficar apaixonada por padres). Pe. Amadi é um cara completamente diferente dos que Kambili conhece. Ao mesmo tempo em que leva muito a sério seu sacerdócio, ele sabe respeitar as tradições do povo local e mostra à menina outras formas de vida, sem deixar sua fé de lado.

Ao mesmo tempo que a autora conta a história de Kambili, ela mostra a realidade do sistema educacional e político do país, a influencia da colonização branca e do catolicismo na vida das pessoas e traços da cultura da Nigéria. Ela joga na cara do mundo que nem todos que vivem no continente africano são extremamente pobres e que cada país tem culturas e tradições independentes. O livro também é totalmente feminista, o que eu já esperava, e aborda o tema de forma indireta, mas muito forte.  Com certeza foi um ótimo jeito de começar as leituras do ano.

Título Original: Purple Hibiscus
Título no Brasil: Hibisco Roxo
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Tradução: Julia Romeu
Páginas: 324


PS: Estou aceitando mais livros da Chimamanda de presente